TERV pode ser entendido como método de
Teatro Educativo. Elaborado a partir de 1966, na EPSP - Escola
Profissional de São Paulo. Mas também pode ser interpretado como um
grupo de Teatro Educativo. É a história desse grupo que vou contar
aqui, agora.
1971. Eu tinha acabado de realizar o I
Festival de Expansão do Teatro Educativo, em Santos-SP. Talvez pelo
relativo sucesso de um festival pioneiro, fui convidado a dirigir o
Departamento de Teatro Infantil da Federação Santista de Teatro
Amador. Tinha à minha disposição o palco do teatro da Rádio Clube de
Santos, onde funcionava a Federação. Resolvi criar um curso de teatro
só para crianças de 6 a 12 anos de idade. Abertas as inscrições,
surpreendeu-me o número de inscritos: 72 crianças. O nascedouro
do TERV - Teatro Educativo de Roberto Villani. As aulas eram
ministradas por mim, aos domingos, no período da manhã. Durante um
ano, um pouco mais, mantive as aulas. Entretanto, por inúmeras
interrupções devido a promoções da Federação em horários
coincidentes com minhas aulas e a problemas internos, resolvi deixar a
Federação e, consequentemente, o palco da Rádio Clube de
Santos.
Na verdade, eu não tinha local para as aulas. Percorri vários locais pedindo ajuda. Bati em várias portas. Finalmente, uma entidade assistencial que ficava na Rua Alexandre Herculano, em Santos, permitiu que eu desse minhas aulas em seu pátio, aos domingos pela manhã. Infelizmente, não me recordo do nome dessa Entidade, a quem muito devo. Isso ocorreu em 1972... Pela mudança de local, o grupo perdeu integrantes. Ficamos com um pouco mais de 40 crianças.
Na verdade, eu não tinha local para as aulas. Percorri vários locais pedindo ajuda. Bati em várias portas. Finalmente, uma entidade assistencial que ficava na Rua Alexandre Herculano, em Santos, permitiu que eu desse minhas aulas em seu pátio, aos domingos pela manhã. Infelizmente, não me recordo do nome dessa Entidade, a quem muito devo. Isso ocorreu em 1972... Pela mudança de local, o grupo perdeu integrantes. Ficamos com um pouco mais de 40 crianças.
A sistemática de cobrança para
participar do TERV era a seguinte: quem podia pagar, colaborava
mensalmente com uma pequena quantia em dinheiro. As atividades do TERV
sempre apresentavam despesas e essas contribuições ajudavam a aliviar
os custos. Aqueles que não tinham condições financeiras não pagavam
nada. Participavam de todas as atividades gratuitamente. E não havia
distinções entre os integrantes do TERV. Todos tinham os mesmos
direitos e deveres.
Em 1974, através do pai de uma
criança integrante do TERV, funcionário do Banco do Brasil em Santos,
fui convidado a participar de uma reunião com a diretoria da
Associação Atlética Banco do Brasil de Santos. Durante essa reunião
fui surpreendido por uma fascinante proposta: levar o meu TERV aos
filhos de funcionários do Banco do Brasil, através da AABB. Essa
associação possuía um grande sobrado na Rua Bahia, em Santos,
totalmente desocupado. A proposta era que ali, naquele casarão, eu
fizesse a sede do TERV, oferecendo desconto nas contribuições mensais
aos filhos de associados. Somente isso. Imediatamente tomei todas as
providências para adequar salas do casarão para as atividades do TERV.
Era a primeira e real sede do Teatro Educativo.
Pela divulgação que a própria AABB
promovia e os comentários que surgiam dos próprios integrantes e seus
familiares, o número de alunos aumentou surpreendentemente. Chegamos a
cento e poucos. Tínhamos aulas todos os dias da semana, menos aos
domingos. E o TERV ganhou estrutura, sustentada pela participação de
crianças a partir dos 4 anos de idade e de jovens e adultos, além de
seus familiares. Criei uma comunidade em torno do TERV. E sem me dar
conta, eu me tornava um líder nas áreas educacional, cultural e
social.
Acesse o link https://youtu.be/kPr8AFCAPNY
Nessa época, alguns projetos foram
desenvolvidos. Realizamos filmagens experimentais em Super 8. O Rapto
da Vovó, curta com crianças de 4 a 6 anos. A Cruz
de Gravetos, curta com jovens. E O Menino que Veio do Sol,
com crianças e jovens. Com teatro, montamos Zanzalá, o Cubatão do
Futuro,
que integrou todos os alunos do TERV. O mesmo ocorreu com a
montagem de O Mar, A Vida... Um Poeta: Vicente de Carvalho, espetáculo que levou ao palco em forma dramatizada poesias do poeta
santista. Aliás, essa montagem foi feita atendendo pedido da Chefe da
Divisão de Cultura de Santos, D. Jurema da Silva Gonçalves. Estudamos,
então, Afonso Schimidt e Vicente de Carvalho, dois grandes vultos
literários da Baixada Santista.
Cena de Zanzalá, o Cubatão do Futuro. |
Infelizmente, logo no início de 1976, fui procurado pela nova diretoria da AABB. Eles tinham um projeto de derrubar o sobrado da Rua Bahia a fim de construírem uma piscina no local. E, mais uma vez, o TERV ficava sem local para sediá-lo. Não me restava outra coisa. Aluguei um sobrado na Rua Joaquim Nabuco - número 20, em Santos. Não tinha as dimensões do casarão, mas foi o suficiente para abrigar minha casa e o meu TERV. Juntamos lar e ideal. Na parte superior instalei minha casa. Na parte de baixo, o meu TERV. Com esta mudança, felizmente, não perdi nenhum aluno. Todos compareceram na nova sede e me ofereceram irrestrito apoio. Mesmo os filhos de associados da AABB e suas famílias. Continuávamos todos juntos. E isso me deu força maior para continuar construindo meus ideais. |
Mas o TERV não era
somente um teatro escola. Tornara-se com o tempo numa comunidade que
visava levar alegria e felicidade àqueles pequenos e idosos carentes de
atenção, de afeição. Preparei os mais interessados para as funções
de Monitores de Teatro Educativo, ou seja, ensinei-os a ministrar nosso
método aos assistidos por entidades sociais. Criei Núcleos na Gota de
Leite, na Casa de Estar, em Santos, e na Centro Comunitário da Vila
São José (Vila Socó) de Cubatão. Nessas entidades, meus pequenos
Monitores levavam de forma alegre e carinhosa o meu Teatro Educativo
para crianças de 3 a seis, sete anos. Tudo de forma totalmente
gratuita. O material que usávamos eu adquiria por minhas próprias
despesas. Foi nesse mesmo
endereço que idealizei e organizei a Maratona da Alegria, com a
ajuda incontestável de meus alunos e de suas famílias. No dia 12 de
outubro de 1977, nove entidades assistenciais e uma favela receberam a
visita de meu TERV. Foi um dia inteiro de festa. Apresentávamos o Show
da Alegria, as crianças recebiam brinquedos, e às entidades foram
doados roupas, alimentos e material de higiene pessoal. Mais de mil
crianças, nesse dia, riram e brincaram com meus queridos alunos.
A bem da verdade, o TERV funcionava em
paralelo às minhas outras atividades. Evidentemente, eu nunca vivi do
trabalho com o TERV. Entretanto, confesso que os resultados do TERV
influenciaram na projeção de minha imagem em outras áreas. Cheguei
a lecionar Folclore e História da Cultura na Faculdade de Turismo de
Santos. Fui (e sou) convidado para proferir inúmeras palestras sobre
Teatro Educativo, Teatro, Artes e Cultura em geral. Ministrei (e
ministro) cursos de capacitação de professores e de pessoas que
desenvolvem trabalhos junto a crianças e jovens, a título de extensão
universitária e de aperfeiçoamento profissional, sob promoção da
Secretaria de Educação e Cultura do Estado de São Paulo, da
Promoção Social do Estado, de prefeituras, de sindicatos e de
universidades. Em 1978, na cidade de São Carlos (SP), alguns amigos
iniciaram um movimento para a criação do Departamento de Teatro
Pedagógico na Universidade Federal de São Carlos, sob minha
coordenação. A idéia foi boa, mas...
O Villani interpreta com uma aluna do TERV. |
O TERV foi e é o meu
grande laboratório de vida. Através dele aperfeiçoei o meu método de
Teatro Educativo. Fiz amigos e admiradores. Cresci como ser humano e
como crente em meu Mestre Maior - Jesus Cristo. O TERV é parte
integrante de minha vida. Ou talvez a minha própria vida, pois nele eu
e minha esposa criamos nossos filhos. E peço a Deus que proteja todos
aqueles que pelo TERV passaram (passam e passarão), de forma direta e indireta.
Os alunos, seus familiares, os colaboradores em geral. Que tenha em Sua
companhia aqueles que já se foram. E que abençoe para sempre João
Pereira dos Santos Netto - patrono do TERV, que com certeza está ao Seu
lado, Senhor. Obrigado.
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